Nova exposição temporária do Museu da Língua Portuguesa é um mergulho na diversidade das línguas indígenas no Brasil
13/10/2022

Se você estiver com viagem marcada para São Paulo, rerseve um tempinho para conferir a nova exposição temporária do Museu da Língua Portuguesa, que fica em cartaz até o dia 23 de abril de 2023. Intitulada, “Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação”, a exposição marca, no Brasil, o lançamento da Década Internacional das Línguas Indígenas (2022-2032), instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) e coordenada pela UNESCO em todo o mundo. Com ingressos a R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia), o visitante vivenciará uma imersão em uma floresta, cujas árvores representam dezenas de famílias linguísticas às quais pertencem as línguas faladas hoje pelos povos indígenas no Brasil – cada uma delas veicula formas diversas de expressar e compreender a existência humana.
A curadora, que também é artista, ativista, educadora e comunicadora indígena, Daiara Tukano, reforça que “língua é pensamento, língua é espírito, língua é uma forma de ver o mundo e apreciar a vida”. A exposição busca mostrar outros pontos de vista sobre os territórios materiais e imateriais, histórias, memórias e identidades desses povos, trazendo à tona suas trajetórias de luta e resistência, assim como os cantos e encantos de suas culturas milenares. Cerca de 50 profissionais indígenas – entre cineastas, pesquisadores, influenciadores digitais e artistas visuais como Paulo Desana, Denilson Baniwa e Jaider Esbell –, participam da mostra, que conta também com consultoria especial de Luciana Storto, linguista especialista no estudo de línguas indígenas; e coordenação de pesquisa e assistência curatorial da antropóloga Majoí Gongora, em diálogo com a curadora especial do Museu da Língua Portuguesa, Isa Grinspum Ferraz.
A EXPOSIÇÃO
A exposição tem uma lógica circular, não importando onde é o começo ou o fim. Atravessando todo o espaço, o visitante encontrará um rio de palavras grafadas em diversas línguas indígenas, criando um fluxo que conectará as salas em um ciclo contínuo. Num dos possíveis pontos de partida, o visitante se depara com uma floresta de línguas indígenas representando a grande diversidade existente hoje no Brasil. Nessa floresta, o público poderá conhecer a sonoridade de várias delas.
A sala ao lado, “Língua é Memória”, traz à tona históricos de contato, violência e conflito decorrentes da invasão dos territórios indígenas desde o século 16 até a contemporaneidade, problematizando o processo colonial que se autodeclara “civilizatório”. Neste ambiente, outras histórias serão contadas por meio de objetos arqueológicos, obras de artistas indígenas, registros documentais, mapas e recursos audiovisuais e multimídia. As transformações das línguas indígenas são tratadas em conteúdos que exploram a resiliência, a riqueza e a multiplicidade das formas de expressão dos povos indígenas. “Colocamos em debate o fato de que somos descritos como povos ágrafos, sem escrita, mas nossas pinturas também são escritas – só que não alfabéticas”, explica Daiara Tukano.
O ambiente apresenta também outras formas de comunicação entre os povos indígenas, como o monumental trocano – um tambor feito a partir de uma tora única e cedido pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da USP –, que Daiara Tukano descreve como “o WhatsApp de antigamente”. Este instrumento pertence aos povos do Alto Rio Negro, e na exposição será acompanhado por outros objetos cerimoniais originários da mesma região, onde nasceu o pai da curadora. Devido às proibições de práticas rituais e à violência decorrentes da presença missionária salesiana no Alto Rio Negro, as línguas e culturas desses povos foram afetadas enormemente.
Em um jogo de contrapontos, esta sala exibe também uma palmatória utilizada em escolas religiosas para castigar crianças indígenas que insistissem em falar suas línguas em vez do português. A peça é feita de Pau-Brasil, árvore considerada símbolo nacional, e que dá nome ao País.
Na sala “Palavra tem poder”, o público conhecerá a pluralidade das ações e criações indígenas contemporâneas a partir de seu protagonismo em diferentes espaços da sociedade, a exemplo de sua atuação no ensino, na pesquisa e nas linguagens artísticas. Os conteúdos estão distribuídos em nichos temáticos, entre eles destacamos os filmes do “Ninho do Japó”, sala de projeção com exibição de produções de autoria indígena.
Ao acompanhar o percurso do rio, os visitantes alcançam um quarto ambiente, noturno, uma atmosfera onírica introspectiva que permite o contato com a força presente nos cantos de mestres e mestras das belas palavras. O rio que percorria o chão da exposição, agora sobe a parede como uma grande cobra até se transformar em nuvens de palavras – preparando a chuva que voltará a correr sobre o próprio rio, dando continuidade ao ciclo.
SOBRE O MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA
Localizado na Estação da Luz, o Museu da Língua Portuguesa tem como tema o patrimônio imaterial que é a língua portuguesa e faz uso da tecnologia e de suportes interativos para construir e apresentar seu acervo. O público é convidado para uma viagem sensorial e subjetiva, apresentando a língua como uma manifestação cultural viva, rica, diversa e em constante construção.
O Museu da Língua Portuguesa é um equipamento da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo, concebido e implantado em parceria com a Fundação Roberto Marinho. O IDBrasil Cultura, Esporte e Educação é a Organização Social de Cultura responsável pela sua gestão.
Serviço:
Exposição temporária Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação
Período: até 23/04/2023
Ingressos: R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia)
Grátis: para crianças até 7 anos
Grátis: aos sábados
Acesso pelo Portão A
Venda de ingressos na bilheteria e pela internet:
Museu da Língua Portuguesa
Endereço: Praça da Luz s/n – Luz, São Paulo/SP
Visitação: de terça a domingo, das 9 às 16h30 (permanência até 18 horas)
Fotos: (crédito: Ciete Silvério)