“As plantas podem ensinar maneiras de viver”, afirma artista cearense sobre caminhos para sobreviver num mundo em crise

Os debates em torno da Emergência Climática são um dos combustíveis da artista cearense Lyz Vedra que, há uma década, desenvolve obras artísticas que proporcionam experiências estéticas em prol de uma "revolução dos afetos".

Graduada em Dança pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e cursando Mestrado em Artes pela mesma instituição, Vedra tem vasta bagagem acadêmica em dança e ecoperformance, e, agora, abre sua segunda exposição individual, Escuta Sensível das Plantas, disponível para visitação no Museu de Arte Contemporânea do Ceará (MAC), em Fortaleza.

"Escuta Sensível das Plantas é uma abordagem somática ligada à dança, através da qual proponho uma busca por uma experiência existencial em sintonia com as plantas. O futuro é ancestral, porque é preciso voltar às raízes e reaprender a viver. Nesse contexto, as plantas podem ensinar maneiras de viver junto, a partir dos saberes e modos de se relacionar desenvolvidos por elas no decorrer de gerações da vida na Terra", explica a artista.

Para além da escuta, Vedra propõe resgatar a prática ancestral de falar com as plantas: "De modo geral, na cultura ocidental, falar com plantas é visto como algo fantasioso, tratado com escárnio e até lido como uma espécie de desequilíbrio cognitivo ou intelectual. Mas, para mim e para muitos povos ancestrais, conversar com plantas é acessar um conhecimento antigo, reaprender e recriar conhecimento".

Elaboradas por Lyz e com curadoria de Lucas Dilacerda, as obras e instalações que compõem a exposição apresentam o entrelace entre a corporeidade vegetal das plantas e a corporeidade travesti da artista. Para mergulhar nesses e em outros debates, os visitantes da exposição entram em contato com os diálogos entre as obras nos quais o corpo ocupa sua centralidade.

"Assim como as plantas transformam os ambientes aos quais germinam, travestis criam saberes cosmopolíticos frente a uma sociedade hegemonicamente normativa. Os saberes produzidos por travestis e aqueles produzidos por plantas - e outras populações ameaçadas de extermínio, como povos indígenas, quilombolas, povos de terreiro, etc… -, são menosprezados pelo projeto colonial de um mundo reprodutor de realidades normativas. Mais que isso, travestis e plantas estão excluídas daquilo que se considera uma vida que deve ser cuidada, preservada e ouvida", pontua a pesquisadora. Simbora lá?

Serviço:
Escuta Sensível das Plantas
Exposição de Lyz Vedra, curadoria de Lucas Dilacerda
Local: Museu de Arte Contemporânea do Ceará
Endereço: Rua Dragão do Mar, nº 81, Praia de Iracema - Fortaleza (CE)
Mais informações: @lyzvedra